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domingo, 24 de março de 2013

Mundo ao revés: América Latina é destino favorito de emigrantes espanhóis

O cenário se inverteu desde começo da crise econômica em termos de migração, segundo o instituto de estatísticas do país





A Espanha, país que até poucos anos era o destino das novas oportunidades para milhares de latino-americanos, hoje sofre um duro revés econômico e como consequência deixa de ser o Eldorado dos que buscam outros rumos. Segundo as atuais cifras divulgadas pelo INE (Instituto Nacional de Estatísticas) do país, o quadro mudou em termos de migração, com um aumento, em 2012, de 6,3% da população espanhola que reside no exterior.

Cerca de dois milhões de espanhóis decidiram tentar a sorte em novos destinos, segundo dados do PERE (Padrão de Espanhóis Residentes no Exterior) divulgados em março. Esta estatística mostra que o destino de maior preferencia dos ibéricos é a América Latina. As cifras incluem espanhóis de dupla nacionalidade, às quais se somam os casos de pessoas que foram à Espanha e obtiveram a nacionalidade, mas decidiram deixar o país.

A publicitária equatoriana-espanhola Silvia Marcos, de 25 anos, engrossa as cifras apresentadas pelo instituto de estatísticas ibérico. Silvia foi morar na Espanha quando era criança, devido ao trabalho dos pais. Acerca de sua dupla nacionalidade, esclareceu ao Opera Mundi que como seus pais foram trabalhar no país, esta foi concedida em uma “questão de tempo, ao contrário do que acontece em outros países da Europa”. “Foi fácil”, garantiu.

Arquivo pessoal

Silvia: "O que vivemos no Equador entre 1998 e 1999, e na Argentina em 2001, agora está acontecendo com os europeus”

Com relação ao número de imigrantes latino-americanos na Espanha, Silvia lembra que, quando chegou, quase não tinha equatorianos morando no país. “Os espanhóis nem sabia onde ficava o Equador, e em alguns anos os equatorianos passaram da sexta maior imigração na Espanha para a segunda, depois dos marroquinos.”

Frente à pregunta de por que decidiu sair da Espanha, Silvia conta que morava em uma cidadezinha. “Se eu não saísse de lá, teria que fazer a mesma coisa a vida inteira, então decidi ir para Buenos Aires”, conta, explicando que o motor de sua mudança não foi a crise que assola o país europeu, mas que “já não voltaria”, já que para ela a Espanha vive “uma situação muito complicada”.

Quanto às cifras que apresentam a América Latina como o lugar predileto dos espanhóis que procuram novos rumos, Silvia corrobora que vê “um montão deles” na Argentina. “No Equador não via muitos, mas nos últimos anos se percebe uma mudança”, explica.

Quando questionada sobre a razão desta emigração, ela diz que “agora a situação se inverteu, o sistema de lá colapsou”. “O que vivemos aqui no Equador entre 1998 e 1999, e na Argentina em 2001, agora está acontecendo com eles”, analisa.

A atriz espanhola Lucía Echeveste Andreotta, de 32 anos conta, por sua vez, que sua motivação para morar na Argentina foi de dois tipos: uma de caráter profissional, já que Argentina tem um elevado nível no ramo. “A maioria dos professores de teatro na Espanha são argentinos”, sinaliza. A segunda foi de caráter familiar, já que sua mãe é argentina e, portanto, viajava ao país desde pequena. “Estar aqui é me sentir em casa”, diz.

Para Lucía, muitos imigrantes espanhóis na Argentina não consideram o país como um lugar para ficar definitivamente. “Eles pensam em voltar para a Espanha”, revela, esclarecendo, no entanto, que “devido à crise, perderam seus trabalhos [na Espanha]” e planejam ficar na Argentina por três ou quatro anos”.

Arquivo pessoal

Para Lucía Andreotta, os espanhóis estão passando pelo que muitos latino-americanos tiveram que viver quando foram à Espanha

Segundo a atriz, as cifras de emigração dos espanhóis para a América Latina são evidentes. “Sinto que eles têm o discurso de que ficariam na Espanha, se sentissem que têm oportunidade de trabalhar no que querem, mas como não resta opção e seus direitos estão sendo cortados por todos os lados, sentem-se obrigados a ir embora, basicamente porque a Espanha, nesse momento, está uma merda”, expressa, afirmando que esta é a impressão transmitida nas redes sociais.

Lucía conta que também optou pela Argentina porque o idioma tem um papel fundamental e as afinidades culturais “também ajudam muito”. Para um espanhol, o latino-americano é “o mais próximo que podemos sentir fora da Espanha”, confessa, complementando que “a grande quantidade de espanhóis e italianos que migraram em outras gerações, faz com que tenham um carinho especial com a gente”.

Quanto a situação legal dos que se mudam, Lucía diz que “agora muitos espanhóis estão comprovando ou vivendo o que muitos latino-americanos tiveram que passar quando foram para a Espanha”. Segundo ela, “a questão dos papéis, de poder estar no país e trabalhar legalmente é o ponto mais complicado”, diz, apontando que, no entanto, quanto a isso, “a Espanha continua igual, só que agora ninguém quer ir para lá”.

Para Lucía, a Argentina não é o país mais complicado para se obter a residência. A atriz conta que soube de casos de espanhóis que quiseram entrar no Brasil, mas que por não ter toda a documentação necessária, não conseguiram. Isso porque o país sul-americano optou por uma política de reciprocidade com a Espanha, o que faz com que exijam aos espanhóis que queiram ir ao país as mesmas coisas requeridas a um brasileiro que vai para a Espanha.

Com relação às cifras que mostram a quantidade de espanhóis na Argentina, Lucía mostra incredulidade, afirmando que as multiplicaria por três ou quatro. “Há muitos espanhóis que estão aqui na qualidade de turista há um ou dois anos, mas em uma realidade totalmente diferente”, explica.

Mais dados

A América Latina está na primeira posição no ranking de destino dos espanhóis, com 62,9%, das pessoas registradas no exterior que declaram sua residência fora da Espanha. Em segundo lugar figura a Europa, com 34%, e cerca de 3% para outras regiões.

É com esta mesma proporção que se encontram os maiores índices de crescimento migratório. A América recebeu 81.757 espanhóis durante um ano, número ao que se somam o 1,2 milhão que tinham sua residência registrada no continente. A Europa, por outro lado, também mostra um crescimento, ainda que de apenas 4,53% em relação ao ano anterior.

De acordo com as cifras entregues, somente 34% dos espanhóis residentes no exterior nasceram na Espanha e 59% é natural do país onde reside atualmente. Entre as faixas etárias, são mais significativas as migrações de espanhóis entre 16 e 60 anos, com 62,4%, e com 23,1% entre os ibéricos com mais de 65 anos.

Os países estrangeiros que contam com maior quantidade de emigrantes espanhóis são a Argentina (385.388), a França (206.589) e a Venezuela (183.163).

sábado, 23 de março de 2013

UFMG abre inscrições para revalidação de diplomas estrangeiros

 

Não há restrição a qualquer instituição estrangeira de ensino superior

             
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) abriu nesta segunda-feira as inscrições para revalidação de diplomas de graduação estrangeiros. Serão aceitos diplomas diplomas de todas as instituições estrangeiras de ensino superior, sem limitação de número de inscritos por curso, de acordo com a universidade. As inscrições podem ser feitas até 11 de abril pelo site da Pró-reitoria de Graduação (Prograd).

O edital inclui os 52 cursos reconhecidos na UFMG, inclusive Medicina. A documentação do processo deve ser enviada à instituição entre 12 e 19 de abril. A lista com os documentos exigidos pode ser conferida aqui.

A UFMG dispensa a autenticação em cartório e a tradução juramentada da maioria dos documentos. A previsão da universidade é que o parecer conclusivo seja emitido em até seis meses após a recepção dos documentos relativos ao processo.

Com informações da Assessoria de Comunicação da Prograd/UFMG

sábado, 16 de março de 2013

Brasil atrai número crescente de estrangeiros para pós-graduação

Rio de Janeiro é uma das cidades que mais atraem os estudantes.
Movimento da economia e eventos aumentaram a visibilidade do Brasil.

Cresce o número de estrangeiros que vêm para o Brasil fazer pós-graduação. O Rio de Janeiro é uma das cidades que mais atraem os estudantes.
Um lado da cidade que não aparece no cartão postal se tornou um atrativo para estrangeiros que escolheram o Brasil pra estudar. Eles chegam em número cada vez maior, para aprender sobre setores onde o Rio de Janeiro se destaca, como óleo e gás, e também para fazer mestrado profissional em áreas como administração.
“O foco desses programas, principalmente do MBA internacional, é traduzir para o expatriado o ambiente de negócios brasileiro”, diz Alvaro Bruno Cyrino, vice-diretor da EBAPE/FGV.
Pierre-François Brunet está no Rio há seis meses, e acredita que seu futuro pode ser no Brasil. “Eu gostaria de trabalhar no comércio internacional. Então tem empresas francesas que já estão aqui no Brasil”, afirma.
Na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, o aumento do número de estrangeiros nos MBAs foi expressivo: mais de 60% nos últimos dois anos.  Crescimento que o Ministério da Educação comprova: no ano passado, 1.576 bolsistas de fora do país fizeram pós-graduação no Brasil, 41% a mais que em 2011.
O movimento da economia, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, juntos, aumentaram a visibilidade do Brasil no exterior. Por isso mesmo, o Rio de Janeiro foi a cidade brasileira escolhida pela Universidade de Columbia, de Nova York, para receber um centro de intercâmbio em pesquisa.
Os chamados Global Centers da Columbia já existem em outras cidades importantes do mundo. Para o diretor do novo centro carioca, a aposta tem tudo para dar certo. “Como serão esses espaços urbanos do futuro, o campo de experimento, o laboratório, é aqui em cidades como o Rio de Janeiro”, afirma Thomas Trebat.
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sexta-feira, 15 de março de 2013

Governo avalia política de trabalho estrangeiro no Brasil

        

Agência Estado
Publicação: 14/03/2013 08:44 Atualização:

O Conselho Nacional de Imigração, vinculado ao Ministério do Trabalho, oficializou nesta quinta-feira a criação da comissão especial que vai estudar o atual modelo de ingresso de profissionais estrangeiros ao Brasil e propor ações para atrair mão de obra qualificada. O grupo, que já havia sido anunciado pelo governo em fevereiro, tem até 30 de junho para apresentar as propostas e o resultado dos estudos.
 
 
Uma das áreas que a comissão deve focar é a revisão do sistema de vistos de trabalho para verificar se está de acordo com a demanda do mercado brasileiro. A tendência é flexibilizar a entrada de profissionais estrangeiros qualificados de acordo com os interesses do país.

Criada por resolução publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira, a Comissão Especial para Estudo do Sistema Brasileiro de Imigração Laboral Qualificada, será composta por conselheiros titulares ou suplentes, sendo admitida a participação de observadores, indicados pelas respectivas bancadas de governo, de trabalhadores, de empregadores e da sociedade civil. A coordenação do grupo é de responsabilidade dos ministérios do Trabalho, da Justiça e das Relações Exteriores.

domingo, 10 de março de 2013

Brasil sobe na lista global de investimento estrangeiro




Agência Estado
Publicação: 04/03/2013 09:11 Atualização:

Em uma década o Brasil subiu 11 degraus no ranking dos destinos globais de investimentos estrangeiros diretos (IED). Em 2003 o País era o 15º na lista e no ano passado passou ao quarto lugar, atrás apenas de Estados Unidos, China e Hong Kong. A fatia brasileira nos fluxos de investimento foi a que mais cresceu no mundo, de 1,7% em 2003 para 5% em 2012.

O perfil do IED por aqui mudou nos últimos cinco anos, como mostra estudo da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet). Houve crescimento na proporção relativa ao setor de petróleo e um recuo na fatia setor de serviços, que ainda lidera a preferência do capital externo em investimentos brasileiros. Mas, a tendência é que o setor retome espaço com o empenho do governo nas concessões de infraestrutura.

A análise da Sobeet foi baseada em dados do Banco Central e da Unctad (Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento). O levantamento dividiu a década em dois períodos: 2003-2007 e 2008-2012. Os setor de serviços viu sua fatia no bolo cair de 51,8% para 42,1% nos últimos cinco anos.

Os setores de telecomunicações, energia elétrica e saneamento foram os mais afetados. No caso das operadoras, os ingressos de IED despencaram de 10,3% para 2,7%. Para Luis Afonso Lima, economista da Sobeet, a explicação é que houve forte concentração de investimentos logo após as privatizações, no fim dos anos 90.

Composto por agropecuária e extrativismo mineral, o setor primário atraiu mais investimentos no último quinquênio, puxado pela extração de petróleo. O porcentual do setor petrolífero nos fluxos de IED saltou de 8,2% para 18,9% na média dos dois períodos. O incremento reflete aportes de rodadas de petróleo concluídas no início dos anos 2000, já que os investimentos pesados costumam ocorrer cinco anos após os leilões.

Apesar da perda de competitividade nos anos recentes, a indústria brasileira não viu seu porcentual de atração de IED ser significativamente alterado. Houve uma perda de apenas 1,2 ponto porcentual do período 2003-2007 (38,6%) para o período 2008-2012 (37,4%).

A Sobeet aponta que a atração de IED para o Brasil nos últimos dez anos foi ao menos parcialmente influenciada por políticas públicas voltadas a atividades consideradas estratégicas em diferentes momentos.

sábado, 9 de março de 2013

Brasil é país mais difícil para contratação de expatriados

São Paulo – Entre os 27 países estudados pelo The Global Skills Index 2012, da Hays, o Brasil é o país com menor flexibilidade para contratação de estrangeiros. “O Brasil é o país mais fechado à mão-de-obra estrangeira entre os emergentes”, diz Juliano Ballarotti, diretor na consultoria.

 

O principal problema com a entrada de executivos estrangeiros no Brasil é uma unanimidade – a burocracia é longa e trabalhosa. “O prazo e o custo acabam sendo muito longos, o que prejudica a tomada de decisão da empresa”, afirma.
Embora esse tipo de estrutura proteja os brasileiros de uma invasão estrangeira no mercado de trabalho, Ballarotti destaca que há países com legislação mais flexível que não erram na gestão.
Para ele, Cingapura e Hong Kong são exemplos de emergentes que regulam a entrada de mão-de-obra estrangeira de forma eficiente.
Educação
A falta de qualificação profissional é o principal gargalo que tem levado empresas a buscar mão-de-obra em países como Portugal e Espanha, onde a crise econômica deixou profissionais sem trabalho.
Não são só as habilidades gerenciais que fazem falta no profissional brasileiro. O estrangulamento é ainda maior nas áreas que requerem maior capacidade técnica. “O que é ensinado nas escolas superiores não é tão bem conectado com o dia-a-dia prático”, diz o diretor da Hays.
Um dos resultados dessa estrutura educacional falha é a ausência de profissionais em áreas de grande potencial econômico para o país. Reclamar da falta de engenheiros já virou clichê e a indústria de óleo e gás é uma das que mais sofre com a escassez de profissionais. “Ainda não temos uma formação adequada no país”, diz.
No entanto, o problema não está somente nas atividades ligadas à infraestrutura. Segundo Ballarotti, o setor de ciências da saúde e de tecnologia da informação também tem sofrido com a falta de preparação dos profissionais.  “O aumento recente do consumo trouxe a escassez de mão-de-obra qualificada também para o mundo do varejo”, acrescenta.
Retenção e investimento no funcionário
Considerando esse cenário, esqueça a ideia de demitir aquele funcionário promissor para buscar alguém que já esteja pronto dando sopa no mercado. Ele simplesmente não aparecerá.
O conselho de Ballarotti é procurar investir nas equipes internas identificando talentos e colocando-os o mais rápido possível dentro da linha de sucessão daqueles que já estão sendo assediados pelo mercado – ou prestes a se aposentar. “Dar condições claras de crescimento, praticar salários condizentes com o mercado e dar alguma flexibilidade.”
Outro investimento importante, segundo o diretor da Hays, é na equipe de gestão, tendo em vista que a maior parte dos pedidos de demissão surge por dificuldades dos funcionários com a liderança.

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terça-feira, 5 de março de 2013

CUT prepara política de ação sindical para estrangeiros residentes no Brasil

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CUT prepara política de ação sindical para estrangeiros residentes no Brasil
CUT prepara política de ação sindical para estrangeiros residentes no BrasilCrise econômica internacional, somada a fatores tão antigos quanto a história da humanidade, tem aumentado o fluxo de migrantes estrangeiros para o Brasil. Em 2012, segundo números do Conselho Nacional de Imigração, receberam visto de trabalho no País mais de 8,3 mil estrangeiros – sem contar aqueles sem documentos. Segundo o IBGE, o número daqueles que em 2010 viviam em território nacional há pelo menos cinco anos era 87% maior que no início da década.

A CUT quer elaborar um plano de ação para contribuir com a luta por direitos humanos e trabalhistas para esse contingente de pessoas. Por isso realizou nesta terça, dia 26, o seminário “O Fenômeno das Migrações e seus Impactos para o Mundo do Trabalho”, na capital paulista.

Segundo a professora do departamento de Geografia da USP Léa Francesconi, as estatísticas mostram que desde 2008 os chamados países em desenvolvimento – incluído o Brasil – recebem 4/5 dos refugiados do mundo.

Normalmente marcada por uma visão defensiva em todos os países, no Brasil a política para migrantes é acrescida de resquícios da ditadura militar e sua visão de segurança nacional, que tratava os estrangeiros como inimigos potenciais. Esse entulho autoritário, segundo outro debatedor do seminário, Paulo Sérgio de Almeida, reflete-se no Estatuto do Estrangeiro, em vigor desde 1980. “Entre alguns pontos desse estatuto, por exemplo, está a proibição de estrangeiros participarem de entidades sindicais, seja como sócios ou dirigentes”, relatou o presidente do Conselho Nacional de Imigração.

Órgão tripartite, com participação de centrais sindicais, confederações patronais, oito ministérios e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, esse Conselho, criado na década de 1980, tem procurado redigir resoluções para modificar a política de tratamento a estrangeiros residentes no Brasil e brasileiros que moram no exterior. Nos últimos anos, conseguiu, por exemplo, tipificar a falta de documentos de estrangeiros como infração administrativa, retirando desses caso a pena de prisão. Outro avanço foi garantir na letra da lei igualdade de direitos entre brasileiros natos e migrantes regularizados.

Apesar disso, relata o presidente do Conselho, a recepção a essas pessoas ainda passa pela tutela da Polícia Federal, cujo olhar é treinado, como seria de se esperar, com a lógica da segurança e da investigação criminal. Por conta dessas contradições, o migrante que for apanhado sem documentos, embora não vá preso, precisa sair do País para só então pagar as multas correspondentes e tentar visto de permanência, o que vai exigir entrar na fila da Polícia Federal. E a igualdade de direitos não abarca, por exemplo, a possibilidade de participar de eleições. O tema é complexo em virtude dos diferentes interesses que toca. Um exemplo foi citado por Vitor Carvalho, dirigente petroleiro e representante da CUT no Conselho Nacional de Imigração. No Rio de Janeiro, antes do início das obras de construção da Siderúrgica do Atlântico, os investidores chineses reivindicaram a contratação de milhares de trabalhadores compatriotas. “Porém, sabemos que há força de trabalho brasileira suficientemente qualificada para para tais projetos. E que precisa de emprego. Não somos contra os estrangeiros, mas é preciso encontrar um equilíbrio nessa questão”, disse.

Mesmo assim, em 2010 veio a público denúncia de que mais de 300 chineses contratados para aquela obra viviam isolados em alojamentos, praticamente restritos ao trabalho e ao sono.

Sem falar em casos de condições análogas à escravidão que atingem bolivianos e paraguaios em empresas têxteis na capital paulista, ou nas recentes levas de haitianos que aportam na região Norte do Brasil sem rumo ou projeto. Ou ainda, caso típico de um País de desigualdades, a situação precária de trabalhadores nascidos aqui.

É evidente a necessidade de garantir condições dignas de vida e residência a essas pessoas, como lembrou em sua intervenção Rafael Freire, secretário de Política Econômica e Desenvolvimento Sustentável da CSA (Confederação Sindical das Américas). “Isso passa, na visão sindical, pela organização e representação desses trabalhadores e trabalhadoras”, afirmou. “Esse deve ser nosso objetivo”.

Porém, além das dificuldades legais já citadas, há também o medo que os migrantes sem documentos têm de se apresentar ou de se reunir onde quer que seja, em virtude da possibilidade de serem apanhados pela Polícia Federal.

O secretário de Relações Internacionais da CUT João Felício lembrou que a CUT já vem realizando esse debate em torno dos fluxos migratórios há alguns anos, mas que o seminário desta terça-feira é o primeiro a envolver todos os ramos de atividades representados pela Central e com a presença de dirigentes de todas as regiões do Brasil. “Esse não é um tema novo, mas vivemos um momento novo, e por isso queremos consolidar uma política de ação sindical consistente para enfrentá-lo”, disse.

Fonte: Isaías Dalle - CUT - 26/02/2013

Nova lei diminuiu adoção de crianças brasileiras por estrangeiros

Com endurecimento da legislação, adoção de crianças brasileiras por cidadãos estrangeiros caiu 20% em três anos. Governo diz que objetivo da lei é proteger os menores.
Cidadãos estrangeiros têm desistido de enfrentar a burocracia da adoção de crianças no Brasil desde que uma lei entrou em vigor no país, em agosto de 2009. Nela, o governo determina que casais brasileiros têm prioridade absoluta na lista de espera, incluindo aqueles que residem no exterior. Antes não havia essa distinção entre brasileiros e estrangeiros.
Se ainda assim os estrangeiros ficarem na fila e conseguirem levar o processo adiante, têm de permanecer em território brasileiro por pelo menos 30 dias antes de voltar com as crianças. Nesse período, são supervisionados por funcionários da Vara da Infância e Juventude. É a chamada fase de convivência. Ao final dela, um relatório é enviado à Justiça e a sentença definitiva sai, em média, duas semanas depois.
De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos (SDH), em Brasília, o objetivo da nova lei é proteger os jovens e dar a eles mais segurança. Mas as mudanças tiveram como efeito adicional a redução no número de adoções internacionais. Entre 2008 e 2011, o número anual de adoções caiu de 421 para 315. As estatísticas de 2012 ainda não foram fechadas. O estado onde houve mais pedidos ao longo dos últimos anos foi São Paulo, com 77 registros em 2011 e 111 em 2010.
Uma adoção internacional pode custar até 25 mil dólares ao pretendente estrangeiro. O valor é uma estimativa de despesas com hospedagem no Brasil, taxas e passagens aéreas.
Em nota, a Secretaria de Direitos Humanos argumentou que a redução no número de adoções não se deve somente às mudanças na legislação. Alguns países só aceitam a adoção de bebês, o que exclui a maioria das crianças, que costumam ter mais de 2 anos.
Os europeus são a ampla maioria entre os estrangeiros que tentam adotar crianças no Brasil. As autoridades brasileiras trabalham com apenas quatro países: Noruega, Espanha, França e Itália. São locais sem muitas restrições e com menos crianças aptas à adoção.
Chance de completar a família
A Itália, de acordo com a SDH, é um caso especial. Os italianos são os que menos se importam se o filho que vem é mais novo ou mais velho – eles querem ser pais. Pasquale Silletti, um italiano aposentado e do interior, adotou dois irmãos gêmeos no Brasil em 2010. Na época, a moça e o rapaz do Mato Grosso do Sul já tinham 12 anos.
Pasquale Silletti com os filhos no Brasil Pasquale Silletti com os filhos no Brasil
O pai adotivo conta que as crianças se adaptaram bem à Europa, "já estudam e fazem até um curso de música". Quando Silletti e a esposa souberam das crianças por um amigo, logo viram que era a chance de completar a família. "Nós nos sentíamos um casal incompleto. Não tínhamos ninguém para acompanhar, para amar. As crianças preencheram esse vazio e nos deram mais energia para encarar a vida", diz Silletti.
Ele explica que não teve dificuldades com as burocracias brasileiras porque não impôs muitas condições e tinha tempo disponível para morar no Brasil pelo tempo exigido. Em tom de brincadeira, diz que a parte mais complicada foi a viagem de avião.
"Solene e formal"
Para a advogada Teodolina Batista da Silva, especialista em Direito Internacional, a nova lei brasileira para adoção não tornou o processo mais burocrático, mas mais "solene e formal". Agora, o Ministério Público é obrigado a atuar, e foi criado um cadastro nacional, pelo qual os estrangeiros iniciam a busca, representados por instituições dos seus países. "Os cadastros foram instituídos com a finalidade de melhor sistematizar o programa de adoção, evitando-se preterir uns e privilegiar outros", afirma Teodolina.
Para a advogada Teodolina Batista, processo não ficou mais burocrático
A lei, segundo a advogada, acrescentou 16 artigos ao Estatuto da Criança e do Adolescente. Apesar de recentes, Teodolina avalia que as alterações tendem a repercutir positivamente com o tempo.
A Alemanha
Em Bonn, na Alemanha, o Escritório Federal de Adoção afirmou que não mantém relações estreitas com o Brasil por causa do excesso de regras e da faixa etária das crianças nas entidades de acolhimento. Os alemães preferem recém-nascidos.
A Secretaria de Direitos Humanos confirmou a informação e disse que o governo brasileiro prioriza também países de cultura e língua semelhantes. Mesmo assim, Portugal não está na lista dos parceiros por causa da crise financeira.
Autor: Maurício Cancilieri
Revisão: Alexandre Schossler

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